Opinião – De mal a pior

Esta coisa da crise climática é uma história ótima para celebrar lucrativos contratos, independentemente do pior resultado que se possa esperar da sua implantação.
Refiro-me, «naturalmente» (na dupla acessão da natureza que devíamos todos proteger e da forma natural como me refiro aos factos, sem daí esperar qualquer contrapartida pessoal), escrevia eu que me refiro ao abate, segundo as notícias a que tive acesso, autorizado pelo ICNF, de 190 sobreiros, no “bairro” de Cartaxo e Santarém…
Primeiro, esclarecer que ICNF, significa, na letra, Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas: na letra, porque, pelo exemplo, nos objetivos, deixa muito a desejar.
Depois, informar que o tal instituto, que supostamente devia proteger a floresta, ainda por cima, vai verificar as condições em que está a ser executado o abate:
Deve ser para confirmar que as árvores ficam mesmo mortas, sem qualquer esperança de renascimento…
E, o mais curioso, é que supostamente o tal de ICNF, terá autorizado esta barbárie, por se tratar de espécimes isolados. O sobreiro (Quercos suber) é uma árvore protegida em Portugal, e em lado algum se lê, muito menos na lei, que se justifique o seu abate por estar isolado… basta consultar oDecreto-Lei n.º 254/2009, de 24 de Setembro.
Na minha gíria, trata-se de «deitar areia para os olhos»!
E porquê este disparate?
Para a instalação de uma central fotovoltaica de produção de energia elétrica, de 518 hectares!! Com um total previsto de 650 mil painéis solares!!
Dirão os mais consulados que se trata de um bem público… Fraude, direi eu!
Em primeiro lugar, a energia elétrica produzida a partir de fontes primárias renováveis, apenas tem sido utilizada para colmatar o aumento do consumo global; depois, há muito espaço em estacionamentos, em telhados, em terraços, para instalar painéis fotovoltaicos mais próximos do consumo final; depois, os custos do transporte da energia produzida no Bairro Falcão, não a fazem ficar mais acessível aos consumidores; mais, tal unidade industrial apenas dá emprego a duas ou três pessoas, em regime sazonal; finalmente, é incomensurável o prejuízo para a descarbonização da atmosfera, diminuída com o abate das árvores, com o isolamento dos terrenos e com a criação de sombra impedindo o desenvolvimento das herbáceas.
Presente o facto de que a energia elétrica que consumimos ser maioritariamente importada e proveniente de indústrias nucleares, é necessário, «naturalmente» (de novo) a sua sustentabilidade e aqui, a única solução viável é a sua poupança, isto é, não precisamos de mais energia, precisamos de poupar a que temos, racionalizar o seu consumo e evitar a sua utilização desnecessária.
Soluções? Milhões!
Desde deixar de engomar roupa interior, toalhas e lençóis, a racionalizar o aquecimento e o arrefecimento dos edifícios, construindo com orientação solar e com materiais isolantes…
E sobretudo, plantar árvores, muitas, por toda a parte… e tratá-las para o seu efetivo desenvolvimento.
Se não, isto vai de mal a pior. Vai, sim!
Opinião – Mário Júlio: Professor do 1º ciclo no Agrupamento D. Sancho I, Pontével e dirigente associativo dedicado ao Teatro